Técnica busca explicar como vírus afeta o desenvolvimento cerebral.
Pesquisadores esperam ter primeiras respostas dentro de seis meses

A eclosão de uma epidemia de zika vírus no Brasil e o consequente aumento dos casos de microcefalia em recém-nascidos motivaram cientistas de diversas áreas a unirem esforços para obter a resposta para uma questão: como o vírus afeta o desenvolvimento do sistema nervoso? O neurocientista Stevens Rehen, pesquisador do Instituto D’Or de Pesquisa e Ensino e do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da  UFRJ, espera ter essa esposta em cerca de seis meses, graças a um recurso que parece saído de um filme de ficção científica.

Rehen desenvolve cérebros de tamanho diminuto em laboratório, e esses organoides (nome técnico da estrutura celular) serão infectados com o zika para que os cientistas possam entender como o vírus ataca as células nervosas.

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“Ninguém sabe ainda como o zika atua no tecido cerebral. É uma reação imunológica à infecção? O vírus libera alguma substância, como por exemplo uma proteína, que prejudica o desenvolvimento dos neurônios? É justamente isso que pretendemos descobrir”, explica Rehen, destacando que a associação entre o zika e a microcefalia é muito recente até para a comunidade médica: “Antes tivemos alguns casos em ilhas da Polinésia Francesa, mas nada com a dimensão que o problema ganhou no Brasil”.

As primeiras infecções em laboratório deverão ser realizadas dentro de um mês, tempo necessário para que as equipes (a Fiocruz também participa do estudo) obtenham uma carga de vírus suficiente para o experimento. “É preciso isolar o vírus, o que já é difícil, e depois fazê-lo se multiplicar até ter uma quantidade ideal para o estudo. A Fiocruz, que já conseguiu isolar o vírus de um paciente, está trabalhando nisso”, diz Rehen.

A partir daí, segundo o cientista, o trabalho se concentrará em acompanhar os minicérebros (que têm cerca de dois milímetros de diâmetro) até que surja alguma alteração no desenvolvimento das células.

Rehen ressalta que, caso os estudos revelem que o vírus altera a formação ou a divisão das células neuronais, será fundamental investir num outro campo de pesquisas: o sequenciamento do genoma do vírus. “Felizmente já há trabalhos nesse sentido sendo realizados, o que vai nos dar mais agilidade nas pesquisas”, diz.

Os minicérebros param de se desenvolver naturalmente após cerca de três meses, por serem massas celulares sem vascularização (presença de vasos sanguíneos). Originalmente, os pesquisadores desenvolveram esses organoides para o estudo de esquizofrenia e, posteriormente, da síndrome de Dravet, um tipo grave de epilepsia que afeta crianças. 

 

fonte: G1

Tamara leitte

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