Não precisamos falar do autor. Albert Camus é escritor francês nascido na Argélia, ocupada pelos franceses; na guerra contra os nazistas, ele ficou ao lado dos seus, lutando na Resistência. Ele é ganhador de um Nobel de Literatura e o livro que colocou o prêmio em suas mãos foi A Peste. Escrito dois anos após o fim da 2ª Guerra.

A Peste é um romance — que os acadêmicos dizem seruma crônica — que não tem não tem época. O autor situa a narrativa em 194… mas poderia ser em 134.. ou 340 AC. Por isso, é um a obra-prima. Não importa, porque o eixo condutor da história, assim como na vida real, é o ser humano e suas fraquezas, suas virtudes, seus defeitos e suas maldades. A Peste de Camus mostra com agudeza de espírito até onde o ser humano é capaz de seguir adiante seja num ato de heroísmo, seja numa ação aviltante e covarde de roubar ou assassinar o próximo por um punhado de moedas.

Ou, até onde vai a inocência e a falta de informação; até onde voa o egoísmo de quem pensa apenas em si e no seu bem-estar, de quem pensa na fuga como refúgio ou como salvação, enquanto os demais são confinados e deixados para trás.

A morte, a guerra, a crença, a solidão, o suicídio, a busca pela felicidade são tratados neste livro com a naturalidade da evocação literária de Camus, mas o que nele sobressai é a importância da solidariedade. O médico Bernard Rieux é o herói que divide os dias de peste entre cuidar dos doentes e mortos que se amontoam e dialogar com seu amigo Jean Tarrou, com o padre Paneloux e suas convicções abaladas diante do sofrimento imposto pela doença. Conhecer os personagens, como Cottard, Rambert, Grand e a tessitura que Camus apregoa a cada um na construção dessa narrativa é um prato soberbo para quem ama literatura.

Claro que a narrativa tem seus tons de dramaticidade entremeadas com a discussão filosófica que encontramos em todas as obras de Albert Camus, como em A Queda, em O Estrangeiro ou em O Homem Revoltado. Para ler Camus é preciso abrir não apenas a mente, mas também o coração. Como compreender a motivação que leva o Dr. Rieux a deixar de lado seus problemas pessoais, seus sonhos e sua carreira para socorrer os moribundos?

Como nos dias atuais, os números de mortos crescem e medidas públicas e impertinentes são necessárias. Também na Orã que Camus nos mostra é formado um mutirão para enterrar os mortos, socorrer as vítimas, encaminhá-las à quarentena. A cidade é isolada e dentro dela isoladas estão as pessoas. A rotina e os costumes cotidianos são quebrados pela epidemia e as pessoas são levadas às reflexões. Esse embate entre a perda dos sonhos ou, então, sua suspensão temporária, e o isolamento social e cultural, são o cenário que já lemos em Boccaccio, que retomamos em Camus e agora experimentamos na vida real em tempos de Covid-19.

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