A floresta tropical Leuser, na ilha de Sumatra, na Indonésia, é um dos ecossistemas mais diversos do planeta, mas a produção de azeite de dendê, as estradas e as represas hidrelétricas estão destruindo-a num ritmo alarmante.

Lahmudin extrai o azeite de dendê (também conhecido como óleo de palma) de dendezeiros (um tipo de palmeira) em um canto remoto de Aceh, na ilha de Sumatra, na Indonésia. “Este campo fazia parte da floresta”, diz o agricultor de meia-idade, olhando para a pequena propriedade que corta um vale cercado por colinas cobertas de árvores.

Ele diz que há uma década ou mais houve um amplo desmatamento de florestas ali porque as pessoas precisavam de dinheiro e por isso plantaram dendezeiros. “Essa é a única coisa que os moradores locais podem fazer.”

A área de que Lahmudin e outros fazendeiros fazem parte do ecossistema de Leuser, uma extensa área de 2,6 milhões de hectares de floresta tropical, o último lugar no planeta onde elefantes, tigres, rinocerontes e orangotangos de Sumatra andam juntos em um só lugar.

Conflito entre humanos e animais selvagens

Mais de 110.000 hectares de floresta primária em Leuser foram derrubados nos últimos 20 anos. Grande parte disso era um habitat plano e, como resultado, mais e mais animais de Leuser entraram em contato com humanos.

No distrito de Bener Meriah, em Aceh, à beira de Leuser, os elefantes pisoteiam os campos e destroem as plantações. No entanto, os moradores encontraram uma maneira de impedi-los: plantando citronela. Os elefantes não comem esse tipo de capim e assim ficam longe dos campos e os agricultores podem vendê-la aos exportadores. A planta é usada para fazer perfumes e medicamentos.

Yusuf, que consegue se comunicar bem com os elefantes, tenta mitigar os efeitos negativos do crescente contato entre os grandes mamíferos e os humanos. Ele diz que as pessoas locais gostam dos elefantes, mas não querem perder suas colheitas. “Os moradores precisam de seu sustento”, diz ele.

Mas nem todos conseguiram, ou querem, encontrar soluções como essa.

Em Singkil, ao sul de Bener Meriah, onde a maior parte da terra foi transformada em plantações de palmeiras, um orangotango foi encontrado preso em uma pequena moita de dendezeiros. Essa pequena propriedade e outras fragmentaram o habitat do orangotango e limitaram seu suprimento de alimentos.

Depois de um resgate dramático, o orangotango de 15 anos foi ferido por tiros de rifle. Krisna, um trabalhador de resgate do Centro de Informações Sobre Orangotango (CIO), diz que os orangotangos entram nas pequenas propriedades dos agricultores e destroem suas colheitas de noz de areca, coco e dendê. “Os moradores locais os veem como um incômodo”, diz ele.

Caça ilegal e manutenção ilegal de bichos selvagens

Orangotangos filhotes ficam com as mães até os nove anos de idade — Foto: vieleineinerhuelle/Creative Commons

Orangotangos filhotes ficam com as mães até os nove anos de idade — Foto: vieleineinerhuelle/Creative Commons

Às vezes, os orangotangos bebês encontrados nessas pequenas propriedades tornam-se um alvo para caçadores e oportunistas, pois as pessoas, tanto na Indonésia quanto no exterior, os querem como animais de estimação. Quando um bebê é capturado, a mãe quase sempre é baleada tentando defendê-lo. Assim, o comércio de animais de estimação é particularmente destrutivo para a população de orangotangos.

Um orangotango macho bebê virará um adulto enorme, com a força de seis seres humanos. Ele vai comer cerca de quatro quilos de frutas e outros vegetais todos os dias. O animal se torna muito difícil de manter e muitos donos decidem abandoná-los ou matá-los.

Sri Lia é uma das proprietárias de orangotangos de estimação que decidiu abandonar seu “filho adotivo”. Sufocando os soluços, ela entregou seu orangotango de três anos, Bom Bom, à CIO. “Ele está crescendo e não sabemos o que ele precisa”, disse Sri, que manteve o bebê orangotango em uma gaiola na maior parte do tempo.

Orangotangos mantidos como animais de estimação são resgatados — Foto: BBC

Orangotangos mantidos como animais de estimação são resgatados — Foto: BBC

“Essas pessoas sempre dizem que amam os orangotangos. Na verdade, o que minha equipe faz é um verdadeiro ato de amor pelo orangotango. Amar não significa posse”, disse Krisna.

Manter um orangotango ou outra vida selvagem em casa é ilegal na Indonésia. Mas nenhum dono jamais foi processado. “Dos nossos cinco anos de experiência, a maioria dos orangotangos foi confiscada de pessoas poderosas e educadas, como policiais ou oficiais do governo”, disse Panut Hadisiswoyo, diretor da OIC. Mas o governo indonésio nega isso. “Eu nunca recebi um relatório sobre isso”, disse o principal funcionário público do Ministério do Meio Ambiente.

A realidade é que o governo não tem um programa para resgatar ou reabilitar orangotangos. Instituições de caridade como o Programa de Conservação do Orangotango de Sumatra (PCOS) em Sumatra do Norte têm que fazer esse trabalho e pagar por ele sozinhas.

Bom Bom é o animal que está lá há menos tempo. Ian Singleton, diretor da PCOS, disse que a cada ano a Indonésia perde entre 100 e 200 orangotangos. “As estradas são o maior problema”, disse ele. As estradas fragmentam o habitat da vida selvagem e abrem a floresta para plantação e mineração.

A barragem e a extinção de elefantes

Um exemplo é a aldeia de Lesten, no coração de Leuser. A vila é remota – a BBC levou 12 horas para chegar de carro da capital. Ela recebeu sua primeira estrada asfaltada no ano passado. Enquanto dirigíamos, vimos muitos trechos de floresta densa sendo dizimados – a destruição estava em toda parte.

Os elefantes de Sumatra são a única espécie de elefantes no mundo listada como criticamente ameaçada de extinção — Foto: Junaidi Hanafiah/Reuters

Os elefantes de Sumatra são a única espécie de elefantes no mundo listada como criticamente ameaçada de extinção — Foto: Junaidi Hanafiah/Reuters

A comunidade de 75 pessoas está decidindo se mudará suas casas para dar lugar a uma barragem hidrelétrica. Eles receberam promessas de uma vida melhor pela empresa de construção da barragem, a PT Kamirzu. “Foram-nos prometidas instalações como casas de 45 metros quadrados, mesquitas, escolas, uma prefeitura e também instalações médicas”, disse Saturudin, o secretário da aldeia.

Ele diz que se a empresa mantiver suas promessas, há uma grande chance de a aldeia concordar em mudar, efetivamente dando à empresa uma aprovação para o projeto. Mas a barragem cortará a última rota de migração restante para os elefantes de Sumatra – a única espécie de elefantes no mundo listada como criticamente ameaçada de extinção.

“Este é o último corredor intacto que ainda temos. Se perdermos o habitat, ele fragmentará a população de elefantes e os levará à extinção”, disse Farwiza Farhan, de uma organização local.

Singleton acredita que é impossível deter completamente o declínio da vida selvagem de Leuser por enquanto. “O objetivo é atrasá-lo o máximo que pudermos, de modo que, quando a Indonésia puder proteger melhor a floresta remanescente, ainda restem alguns orangotangos e outras espécies.”

Fonte: G1 Natureza

Tamara leitte

Autor Tamara leitte

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