Vítimas de caçadores, elas são resgatadas e enviadas a centro do Exército.
Uma delas está praticamente cega devido a possíveis maus-tratos.
Cegueira, convulsões e fraturas múltiplas são apenas algumas das sequelas carregadas pelas onças que chegam ao Centro de Instrução de Guerra na Selva (Cigs). O zoológico, localizado em Manaus, acolhe estes e cerca de outros 200 animais em situação de risco na Amazônia. Vítimas de caçadores e até de maus-tratos, as onças recebem tratamento especializado e chegam a triplicar o tempo de vida em um cativeiro que imita o habitat natural da espécie.
A diminuição das áreas naturais favoráveis a sobrevivência e a falta de caça natural disponível são algumas das ameaças que colocam a onça em risco de extinção. Além desses fatores, a exploração ilegal do animal – que inclui a comercialização da pele e da carne no mercado negro – também somam número preocupante de ocorrências.
Além de Cunhã, outra onça chamada Cabocla também chegou ao Cigs com sequelas de maus-tratos. “Um ano depois, em 2013, chegou outro filhote vindo de um cativeiro ilegal. Ela chegou aqui com problemas neurológicos, andava em círculos, tinha convulsões diariamente. Nós fizemos todo um tratamento com anticonvulsivantes, chegamos a aumentar a dosagem quando o caso se intensificou, mas ela não resistiu”, afirmou Torres.
Ao todo, 10 onças vivem sob cuidados de guarnições militares no Amazonas, sendo 8 no Cigs, uma no Comando Militar da Amazônia (CMA) e outra no 1º Batalhão de Infantaria de Selva (1º BIS).
Tratamento, recuperação e cuidado
Para superar traumas e garantir o bem-estar animal, as onças que vivem no Cigs recebem tratamento específico, baseado em um calendário anual de manejo sanitário. Conforme o cronograma, cada onça recebe atendimento duas vezes por ano, que inclui exames de sangue, palpação para identificar disfunções, ultrassonogafria, raio-x, além de tratamento odontológico e cortes das unhas.
O manejo, entretanto, funciona como uma verdadeira operação, segundo a tenente Torres. “Nós temos um protocolo anestésico, em que anestesiamos o animal por meio de um dardo, com o uso de uma zarabatana para fazer a aplicação. Dez minutos depois ele dorme. São designados todos os veterinários do Cigs para esse manejo, porque precisa ser um atendimento rápido para não prejudicar o animal. Se houver alguma emergência, o mesmo procedimento é feito fora do cronograma, sempre quando há necessidade”, informou.
O corte das unhas ocorre de seis em seis meses. As quatro onças mascotes, que participam de desfiles militares e solenidades junto aos ‘guerreiros de selva’, recebem o serviço de forma trimestral. “Não fazemos um corte profundo, é só a pontinha. As mascotes estão mais em contato com os soldados e por isso precisam ter as unhas aparadas frequentemente”, disse.
Além destes cuidados, a alimentação dos bichos recebe atenção especial do Centro. Cada onça consome 5kg de carne em dias intercalados. A dieta balanceada foi planejada para evitar sobrepeso e manter o animal saudável. “O cativeiro promove o ganho de peso, porque eles diminuem o exercício. Fazemos uma permuta de carne branca e vermelha, para equilibrar o corpo e o paladar do animal. O outro dia após a alimentação ela passa digerindo o alimento”, explicou.
Diariamente o animal é visitado por um tratador, que limpa o recinto para retirar dejetos. “Toda vez que ele entra no recinto da onça, é preciso que ela fique isolada em outro espaço. Mesmo que o tratador conviva com a mesma onça por anos, todos os dias, a convivência nunca é segura e é preciso tomar muitos cuidados”, acrescentou.
Como lugar de animal silvestre é na selva, o zoológico do Cigs ambientou seus recintos para reproduzir o habitat natural desses animais. A iniciativa pretende promover a recuperação e bem-estar do animal em um espaço amplo, o que faz com o que o visitante passe mais tempo observando cada área à procura dos animais alojados.
Fonte: G1