Se queremos um governo melhor, precisamos aprender a exigir mais dele e pedir menos para
nós. — Tony Judt (O Chalé da Memória)
É impressionante a capacidade de disseminação de mentiras que vemos aumentar nas redes
sociais e até nos noticiários da televisão, onde governantes mentem de forma descarada,
desavergonhada, diante de milhões de telespectadores. Nosso meio político está apodrecendo
de tal forma que o eleitor terá enormes dificuldades para escolher entre os candidatos que
serão apresentados para o escrutínio.
Na contramão do mundo, o Brasil oscila entre esquerda e direita como se essas narrativas
equivocadas ainda existissem, e esquece de cobrar, ou como acentua muito bem Tony Judt,
esquece de exigir dos nossos governantes, políticas públicas que beneficiem nosso povo, nossa
economia, nossa nação.
Ao posicionar o país na linha imaginária esquerda/direita, ou seja, Estados Unidos/China, o
Brasil abre mão ser de protagonista da história. Ao aceitar ser conduzido, o Brasil não conduz.
O nosso país tem tudo para ser uma das espinhas dorsais do planeta e dar as cartas de igual
para igual entre os países mais ricos do mundo. Mas, o que estamos buscando?
Enquanto os nossos líderes encantam serpentes e beijam sapos, nosso povo tateia na
escuridão em busca de um sentido político, de uma luz que não clareia. Vejamos o que as
narrativas escondem:
— A China comunista. O comunismo chinês existe no topo do poder político. Um pequeno
grupo de 170 políticos forma o Politburo (Comitê Permanente) que comanda o país sob os
auspícios do Congresso Nacional do Povo, formado por 2.890 membros, eleitos entre o povo,
que se reúne anualmente com mandato de cinco anos. Atualmente são 2.095 eleitos pelo
Partido Comunista Chinês, 472 independentes (voto avulso) e os demais estão distribuídos
entre 8 pequenos partidos que formam a Frente Unida. Do lado de fora do campo político, a
economia chinesa é uma briga de foice no escuro tão selvagem quanto o capitalismo liberal.
Talvez você não saiba, mas não há universidades públicas na China e nem existe um SUS como
temos no Brasil: saúde é paga. Ah, e o salário mínimo deles é duas vezes maior que o nosso.
— Os Estados Unidos liberal. O liberalismo dos Estados Unidos está baseado no capitalismo
puro e simples. Se você tem dinheiro, come; se não tem, morre de fome. Simples assim. Se
ficar doente sem ter plano de saúde você até será atendido, mas de uma forma ou de outra,
vai devolver o dinheiro do tratamento para o estado. Medicaid e Obamacare não são nem a
sombra do SUS. O salário é pago semanalmente e muitas das garantias trabalhistas que o
brasileiro goza não existem por lá.
Não estou dizendo que eles estão errados, nem a China nem os Estados Unidos. A situação
muda de figura quando se entra na Europa, onde viceja o estado de bem-estar social. Cobra-se
impostos mais altos e progressivos (de acordo com a riqueza do cidadão) e se distribui a renda
para evitar o pauperismo do seu povo. Quando você abre as revistas Forbes e Fortune poderá
observar que os europeus ocidentais que por ventura figurem na lista dos grandes bilionários
são minoria.
Ora, os governantes brasileiros deveriam estar trabalhando para o Brasil ser referência para o
mundo e não um satélite incipiente dos Estados Unidos ou da China. O brasileiro não deveria
estar “comprando” essa narrativa mentirosa de comunismo e liberalismo, porque, na verdade,
o que determina no mundo é o poder de compra de cada país. Vide Rússia e Ucrânia.
Precisamos dar um basta nas mentiras e exigir dos nossos candidatos propostas sérias de
governo que possam elevar nossa nação a patamares mais altos no campo internacional.
Precisamos escolher projetos e não mentiras. Precisamos de democracia e não de tirania.
Somente votando, aprendendo a escolher nossos governantes, é que teremos condições de
exigir mais e pedir menos.
Por Lele Arantes – Historiador e jornalista
Foto: Reprodução / Stoodi