PALAVRA DO PRESIDENTE

Para tirar o Brasil da pobreza

Aumentam progressivamente, a cada dia, os níveis de pobreza e de miserabilidade do Brasil. Seria um erro atribuir cem por cento da culpa ao governo uma vez que parte dessa responsabilidade cabe à pandemia e seus nefastos efeitos sobre a nossa economia.

Sem entrar no mérito da questão vacinal e do negacionismo oficial, vale afirmar que houve negligência na tomada de decisões dos responsáveis pela saúde pública brasileira na adoção de medidas emergenciais e pontuais no primeiro semestre de 2020, porém essa é uma questão que caberá ao Congresso Nacional e os tribunais elevados da Justiça resolverem.

Do nosso lado, a grande preocupação do momento é a sobrevivência de quase 40% da população nacional que se encontra em situação de pobreza absoluta, resvalando para a completa miserabilidade. Essa condição econômica não condiz com a realidade de um País que se quer rico e se autointitula como o maior exportador de grãos do mundo.

É preciso definir, com urgência, quais grãos são alimentos para o prato da cozinha da dona de casa, da mãe de família, e quais são para fins industriais. De uma coisa estamos absolutamente convencidos: certas riquezas da nação jamais chegam às mãos da maioria dos brasileiros.

Partindo dessa premissa, apoiamos integralmente a adoção do auxílio proposto pelo governo federal para amparar as famílias vulneráveis, especialmente aquelas que até outubro recebiam o Bolsa Família e agora estão desemparadas. Acreditamos que o governo federal usará este tempo do novo auxílio provisório para criar um programa de renda salutar e permanente para tirar de vez o Brasil da linha da miséria. É uma vergonha um país como Brasil, que está no G-20 (os 20 países mais ricos do mundo) e tem quase a metade do seu povo nas linhas da fome sazonal e da fome extrema.

Faz-se urgente a implantação da um programa permanente de amparo às famílias empobrecidas. A retomada do crescimento econômico passa pela conquista de poder de compra dos brasileiros. Não se pode falar em riqueza virando as costas para o consumo interno. Sem poder de compra, a Nação torna-se refém de nações ricas e qualquer turbulência na economia internacional desestabiliza a economia interna.

A roda do capitalismo é límpida como água cristalina: a indústria e a agricultura produzem, o comércio vende, a prestação de serviços ampara. Estes três pilares da economia empregam e o consumidor compra. Quando o consumidor compra, o comércio e a prestação de serviços ganham e por sua vez compram da indústria e da agricultura fazendo a roda girar. E o mais interessante de tudo é que todos, no frigir dos ovos, são consumidores. Industriais, agricultores e comerciantes (todo tipo de empresário e empreendedor), prestadores de serviços e trabalhadores formam o grande exército de consumidores.

A lógica do capitalismo, quando despido de todas as teorias, é essa: produzir, vender e comprar. Sem comprador (consumidor) não há venda, sem venda não há produção e sem produção não há empregos, sem empregos não há salários e sem salários não há consumo.

Diante dessa lógica, a instituição de uma renda universal básica que contemple todas as famílias vulneráveis será uma alavanca para a economia nacional, favorecendo desde o quitandeiro e o pequeno produtor familiar até as grandes redes atacadistas e varejistas que, por sua vez, impactam o setor industrial.

É hora de o Brasil tirar os olhos do quintal do vizinho rico para investir suas economias e energias no seu próprio quintal. É hora de investir nos brasileiros.

E quando falamos em investir nos brasileiros estamos falando de uma grande concertação nacional — uma espécie de New Deal tupiniquim — para tenhamos, verdadeiramente, um grande milagre brasileiro, garantindo novas oportunidades de investimentos e de empregos para a criação de uma sólida sociedade de bem-estar social, assegurando oportunidades e acesso a programas reais e robustos que contemplem ricos, pobres e miseráveis, buscando um consenso nacional de esforço para erradicar a pobreza e eliminar completamente a miséria. E isso só acontecerá com empregos, melhoria da renda, amparo social e investimentos oficiais. Uma série de medidas que impactará positiva e colateralmente a educação, a saúde, o turismo, enfim, todos os setores da economia brasileira. Sem isto, podemos nos preparar para os sete anos de vacas magras, como diria José ao faraó.

 

Ovasco Resende
Presidente da FEN