Érico Hiller viajou por sete países para denunciar risco de extinção.
Com 130 fotos e 250 páginas, obra debate culpa e insensatez do homem.
A foto de um pedaço de chifre de rinoceronte na mão de um traficente abre o livro “A Jornada do Rinoceronte”, do fotógrafo documental Érico Hiller. Ela é apenas a primeira da série de 130 imagens da obra que debate como práticas criminosas e superstições podem levar à extinção dos rinocerontes. O livro, que será lançado nesta quinta-feira (3) em São Paulo, resume em 252 páginas quase uma década de inquietação e pesquisas do fotógrafo mineiro.
O resultado do trabalho, na avaliação do próprio fotógrafo, é um livro sobre a ambição e a insensatez humana. Hiller lembra que os rinocerontes podem ser extintos até 2026 (segundo projeção da ONG Save The Rhino) por causa de caçadores que buscam o chifre para venda por interessados em supostos fins medicinais e místicos, sobretudo na Ásia.
Apesar de todos os alertas e estudos sobre a ineficácia do uso do chifre, composto basicamente por queratina, a caça furtiva entrou em níveis alarmantes, sobretudo a partir de 2013. “Todo o problema da crise é culpa do ser humano, a gente que criou o mito do consumo”, comenta Hiller.
Autor de outros dois livros (“Ameaçados” e “Emergentes”) que também abordam preocupações sociais ou ambientais, o fotógrafo conheceu de perto o tema em 2007, durante uma viagem de trabalho à África do Sul. Basicamente, um guia apontou um rinoceronte em uma reserva e indicou que ele o fotografasse, pois em breve os caçadores já teriam varrido toda a espécie da natureza.
Desde então, após ouvir pesquisadores e ler sobre o tema, viajou África do Sul, Zimbábue, Quênia, Moçambique, Índia, Vietnã e Hong Kong em busca da história dos rinocerontes. “Não me sentia a pessoa apropriada para ser porta-voz nisso”, conta, lembrando que há muitos fotógrafos especializados em vida selvagem e ainda mais ligados em temas ambientais.
Apesar do receio inicial e da falta de recursos, o lançamento que ocorre a partir das 18h na Livraria Cultura do Shopping Iguatemi é a prova de que encontrou sua forma de realizar o projeto.
O primeiro ponto foi a construção da narrativa apoiada não somente nos próprios animais. “Não queria fazer um catálogo de geografia”, explica. Além de revelar guardas ambientais, famílias de caçadores e outdoors contra o consumo do chifre, Hiller também levou para as páginas do livro, textos detalhados sobre as experiências das viagens, pesquisas e impressões pessoais.
Mas, segundo Hiller, o livro só foi transformado em realidade por causa da disposição para buscar patrocinadores que acreditaram no projeto. Sem apoio de agência de captação ou mesmo de lei de incentivo, o fotógrafo conseguiu recursos para dois anos de viagem batendo na porta de empresas e defendendo a importância do projeto. “É a vitória do homem e seu laptop tentando tornar o sonho realidade”, avalia. Hiller estima que apenas a impressão tenha consumido R$ 200 mil.
“Se você acredita em uma ideia e sai em busca, as pessoas te ajudam a realizar. (O livro) é a prova cabal de que é possível empreender na fotografia documental se você tem uma ideia”, afirma.
Fonte: G1