“A Educação Ambiental deve se configurar como uma luta política, compreendida em seu nível mais poderoso de transformação: aquele que se revela em uma disputa de posições e proposições sobre o destino das sociedades, dos territórios e das desterritorializações; que acredita que mais do que conhecimento técnico-científico, o saber popular igualmente consegue proporcionar caminhos de participação para a sustentabilidade através da transição democrática”.
Este argumento de Michele Sato explica bem o que significa política nas práticas de Educação Ambiental, ou seja, transformar o destino da sociedade, incentivando as mudanças de hábitos, o conhecimento e valorizando a sabedoria popular. Sendo assim, quem lida com atividades de EA sabe que é preciso fazer com que a população seja mais crítica, compreenda seus direitos e deveres em relação às questões socioambientais.
Muitos educadores, às vezes, optam por realizar em suas comunidades eventos que acabam tendo um bom alcance na mídia, como plantio de mudas em uma determinada área degradada, mutirões de limpeza onde o poder público não se faz presente, e assim por diante. Mas aí pode morar um sério perigo: o uso das atividades como marketing para ações político-partidárias.
Já reparou como se multiplicam os eventos de EA em anos de eleição? Quem já trabalhou em Organizações não-governamentais sabe como é difícil conseguir verbas para projetos. E, em anos pares, políticos que nunca participaram daquela instituição começam a rondar, principalmente se a Organização tem credibilidade na comunidade e acesso fácil à imprensa.
Por isso, é preciso muita cautela com as chamadas parcerias, apoios culturais etc. Muitas vezes essas atividades podem ser manipuladas, sem que o educador perceba, para destacar um governo, por exemplo. São muito comuns situações onde uma instituição faz um belo trabalho sobre um tema e um indivíduo participa de uma única ação e já coloca em seu material de campanha que é um defensor da natureza. Ou, então, um governo pode aproveitar um evento de uma ONG para aparentar que tem ações concretas para aquele assunto, que no dia a dia não consegue resolver.
Exemplos: prefeitura falando em seminários sobre resíduos sólidos, enquanto ela mesma não recolhe o lixo, mas no evento apresenta fotos de alguns lugares e quem não conhece bem a região acho que está uma maravilha. E pior, tem aqueles que fundam associações de meio ambiente só para fazer um bom eleitorado. Isso sem contar as empresas poluidoras que patrocinam eventos justamente onde possuem o ponto mais fraco, para desviar o foco.
Suspeite também de organizações que passam o ano inteiro sem fazer nada e, de repente, apresentam trabalhos que dão crédito a um fulano ou outro que são candidatos.
Por isso, educadores e educadoras, não se deixem manipular! Sabemos que há muita dificuldade para conseguir patrocínio para projetos e atividades na área de Educação. Mas é preciso que estejamos atentos para distinguir o que são realmente parcerias com intuito de melhorar o meio ambiente daquelas que só estão interessadas em resolver seus interesses particulares. Pois um dos objetivos da Educação Ambiental é fazer com que os cidadãos lutem por políticas públicas e não partidárias.
Se você já vivenciou uma situação como essa, deixe seu comentário.
Fonte: Pensamento Verde