Naomi Klein, jornalista e escritora canadense, abre seu livro mais recente, Não Basta Dizer Não, com uma bela citação de Martin Luther King Jr., extraída do discurso “Beyond Vietnam”, proferido em 1967, onde ele diz que “precisamos começar rapidamente a mudança de uma sociedade voltada para as coisas para uma sociedade voltada para as pessoas. Quando máquinas e os computadores, fins lucrativos e direitos de propriedade são considerados mais importantes do que as pessoas, é impossível derrotar os trigêmeos do racismo, do materialismo e do militarismo”.
O livro de Naomi Klein é do 2017 e a frase de King é de 1967. Ele lutava pela emancipação completa dos negros nos Estados Unidos e logo no ano seguinte, em 1968, seria assassinado por defender suas ideias. Parece que tudo isso aconteceu ontem, mas lá se vão 50 anos. O pastor Martin Luther King Jr. entrou para a História, com H maiúsculo, enquanto seus perseguidores perderam-se no pó do esquecimento.
O livro de Naomi Klein é um libelo em defesa da liberdade, fazendo uma análise profunda e realista da eleição de Donald Trump e a ascensão mundial de uma direita raivosa e extremada cujo objetivo é colocar um ponto final na democracia e no atual estádio do sistema político. Ela enfatiza que Trump e “seus companheiros de viagem” devem ser vistos pelo que são: “um sintoma de um mal profundo, um mal que decidimos, coletivamente, nos unir para curar”.
Klein denuncia com veemência os males que o governo Trump provoca na democracia americana e que se irradiam para o restante do mundo, impactando profundamente as democracias latino-americanas. Para ela, Trump e seus associados, como a ExxonMobil, General Dynamics, Boeing e a Goldman Sachs vivem sob um senso “quase impenetrável de impunidade — de estar acima das leis e das regras comuns”.
Ela afirma que para Trump e as marcas que o rodeiam na governança “qualquer um que represente uma ameaça (a essa impunidade) é sumariamente demitido”. Essa marcha da estupidez governamental dos Estados Unidos já vem sendo denunciada por Naomi Klein há anos, desde o lançamento do seu livro Sem Logo: A Tirania das Marcas em um Planeta Vendido.
Na concepção de Noami Klein, Trump e aqueles que vieram na sua esteira mundo afora são o produto de sistemas poderosos de pensamento que classificam “a vida humana com base em raça, religião, gênero, orientação sexual, aparência e capacidades físicas” (…) é a personificação da crença de que “dinheiro e poder nos autorizam a impor nossa vontade aos outros”.
O livro, repleto de informações, procura nos alertar de que Donald Trump é uma marca, inflada por outras marcas, a serviço das grandes corporações mercantilistas que dão sustentação ao capitalismo mundial, que sobrevivem das especulações políticas, da exploração das riquezas naturais (petróleo, ouro, diamantes, aço, etc.), das guerras, das revoluções, dos grupos terroristas, das intrigas palacianas e, principalmente, dos grandes desastres que acossam o mundo, como o Katrina e as guerras na Síria, no Golfo, no Iraque…
São corporações monstruosas cuja fome de lucro é pantagruélica, insaciável. Elas elegem e derrubam governantes, financiam golpes, revoluções e guerras civis e são experts na geração da raiva e do ódio, fomentando o racismo e o preconceito, viralizando mentiras e opiniões infundadas como meios de desestabilização das sociedades e de governos que vicejam em sistemas consolidados. Naomi Klein ressalta que uma das armas para expandir a insanidade é “dividir para conquistar”.
Ao escrever este livro, ela conclama a população a refletir e a dizer Não. Dizer Não a slogans vazios do tipo “a América grande de novo” ou “retomar o controle”; ou, ainda, a frases xenofóbicas destituídas de valor e da verdade. É um livro que vale a pena ser lido e relido por aqueles que pensam no mundo como a nossa casa, nossa morada, e na população como a grande família humana buscando alimentação adequada, moradias decentes, saúde e educação dignas, igualdade de oportunidades e respeito mútuo independente de raça, religião, gênero, orientação sexual e condição financeira. (Editora Bertrand Brasil).
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