Professor de História da Universidade de Yale, nos Estados Unidos, e membro do Instituto de Ciências Humanas, em Viena, Áustria, Timothy Snyder, é o autor de um livro que está na cabeceira dos principais políticos e ativistas do mundo ocidental: Sobre a Tirania.
Sua obra é fluente, com texto de fácil leitura e boa compreensão, deixando claro que não está preocupado com academicismo e sim com a penetração alargada de seu pensamento sobre os perigos que as democracias correm no século XXI, apontando os 20 principais problemas que a humanidade vivenciou no século 20.
Dias após a eleição de Donald Trump para a presidência dos Estados Unidos, Snyder postou um texto no Facebook dizendo que “os americanos não são mais sábios que os europeus que viram a democracia dar lugar ao fascismo, ao nazismo ou ao comunismo no século XX. Nossa única vantagem é poder aprender com a experiência deles”. O texto viralizou rapidamente e deu origem a um livro que em pouquíssimo tempo se tornou best-seller e foi traduzido para vários idiomas com grande repercussão.
Donaldson M. Garschagen traduziu a obra para a português brasileiro e a Companhia das Letras já está na terceira reimpressão. Esse livro é um grito em favor da liberdade e um aviso solene de que estamos à beira do abismo que abriga a tirania e seus filhos diletos: o absolutismo, o obscurantismo, a censura, a suspensão dos direitos civis, a tortura, a repressão, o assassinato de opositores e a instituição da mentira como política de governo.
Snyder abre seu livro chamando a atenção do leitor para a frase do advogado abolicionista norte-americano Wendell Phillips que se tornou a marca da defesa da democracia: “o preço da liberdade é a eterna vigilância”. Para o autor, a ascensão da direita e dos conservadores, tanto nos Estados Unidos como em outros países ocidentais, acende o farol amarelo para que os democratas do mundo fiquem alertas e vigilantes.
O livro traz, com forte contundência, relatos de como surgiram as tiranias fascista, nazista e comunista na Europa exatamente um século atrás: a partir de 1920, mas faz uma ressalva que é preciso anotar: “A história não se repete, mas ensina”. Ele observa que em alguns momentos antes de aplicar o torniquete da tirania, Hitler chegou a ser admirado por alguns governantes e intelectuais do mundo ocidental. Aliás, Hitler, assim como Stálin, chegou a ser capa da revista Time como “o homem do ano”.
Segundo Snyder, os governos com tendência à tirania têm vocabulário específico e próprio sempre com base na exceção: extremismo e terrorismo são alguns deles. O opositor será sempre taxado como extremista e qualquer ação contra seus atos é logo apontada como um ato de terrorismo. Sob o manto da “segurança”, esses governos apelam para a destituição de direitos civis e humanos.
Timothy acentua que em nome da segurança a primeira vítima é a liberdade: “um momento de choque permite uma eternidade de submissão”. Ele cita como exemplo o incêndio do Reichstag (sede do governo na Alemanha) na noite de 27 de fevereiro de 1933. Este ato permitiu a Hitler suspender os direitos básicos de todos os cidadãos alemães. Por meio desse ato, os nazistas passaram a prender os políticos e as pessoas que faziam oposição ao nazismo. Pouco depois foram suspensos os partidos e as instituições que controlavam os excessos governamentais e garantiam a ordem pública.
Outra prática da tirania é usar a mentira, a calúnia e a difamação para esmagar seus opositores e denegrir as instituições públicas. Logo no capítulo 2, Snyder orienta os leitores a defenderem as instituições. “São as instituições que nos ajudam a preservar a decência” diz Snyder, alertando que “as instituições não se protegem sozinhas”.
No Brasil, por exemplo, o STJ e o STF estão sendo alvo de depreciação pública com o intuito de fazer os brasileiros repudiarem as cortes de justiça do país.
Snyder pede calma e atenção com os fatos e os assuntos que interessam aos governos. Ele ressalta que “a tirania moderna é a gestão do terror”, enfatizando que os governos autoritários exploram fatos como supostos ataques terroristas ou desastres repentinos para dar fim aos mecanismos de controle, para dissolver os partidos de oposição, fechar os parlamentos, suspender a liberdade de expressão, aplicar a censura, retirar os direitos de liberdade e eliminar o direito a julgamentos justos.
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