Título: O Liberalismo Antigo e Moderno

Autor: José Guilherme Merquior

Editora: Nova Fronteira

Número de páginas: 260

 

“A tarefa que se impôs Merquior de historiar e analisar os momentos decisivos da ideia liberal em quase três séculos de história — é não só admirável quanto fascinante”, escreveu José Mario Pereira nas orelhas do livro O Liberalismo – Antigo e Moderno, publicado em 1991 pela Nova Fronteira. Trata-se de uma obra elogiadíssima que deveria ser livro de cabeceira de todo político brasileiro, seja qual for sua ideologia. O livro, originalmente, foi escrito em língua inglesa: Liberalism – Old and New e traduzido por Henrique de Araújo Mesquita.

Para se ter uma vaga noção da qualidade do livro veja o que escreveu John A. Hall, professor de Sociologia da Universidade de Harvard: “Merquior força-nos a lembrar que o liberalismo tem sido um movimento internacional. Esse livro é um ‘tour de force’, o produto de uma mente poderosa e elegante inteiramente à vontade em meio a um extraordinário número de cultura”.

Ora, quando grandes mestres se propõem a assinar seu nome em um elogio público, quiçá internacionalmente, nós, leitores temos a obrigação de ao menos nos inteirar sobre o assunto. O livro de José Guilherme Merquior — para quem gosta de política e de sociologia, para quem é enfronhando no dia a dia dos embates partidários — é mais que um aprendizado, é um curso intensivo de conhecimento e história.

Merquior nos apresenta, de maneira leve, concisa e fluida, todas as nuances do liberalismo, que são muitas, mas todas convergentes para um único ponto: a liberdade. Ao conhecer as doutrinas emanadas dos liberalismos, perceberá que conservadorismo não é uma política liberal. Liberalismo e conservadorismo são antagônicos se não estiverem alinhados na defesa da liberdade política, econômica e individual.

Merquior parte das definições e raízes do liberalismo e aborda todas as escolas e vertentes da doutrina, aprofundando os assuntos a partir do liberalismo clássico, de Locke e Madison, passando por Constant, Tocqueville, Mill (pai e filho), Mazzini… drapejando a bandeira liberal a partir da Revolução Gloriosa, em 1688, analisando Locke, Montesquieu, Rousseau, Smith, a Revolução Francesa, a Declaração dos Direitos adotada nos Estados Unidos, a paz perpétua de Kant, o 18 Brumário…

O leitor atento e com sede de saber mergulhará neste livro como um nadador olímpico na busca da sonhada medalha de ouro. Debruçará sobre os capítulos com fome de leão. Liberalismos conservadores e seus apêndices como “conservadorismo liberal”, os “liberais conservadores evolucionistas” — leiam-se Bagehot e Spencer; o “semiliberalismo alemão” e a obra de Max Weber, para chegar em Croce e Ortega (sim, de A Rebelião das Massas).

O capítulo que trata dos novos liberalismos e dos neoliberalismos — notável que há diferenças — é uma aula magna. O liberalismo social é o ponto de partida assim como o chamado liberalismo de esquerda. Liberalismo de esquerda? Neste quadro o leitor topa com Kelsen e Keynes. Passará por Popper para então compreender o neoliberalismo de Mises a Hayek. A apoteose é atingida com o liberalismo sociológico na leitura de Aron e Dahrendorf, culminando com os neocontratualistas, de Rawls, Nozic e Bobbio.

Não podemos esquecer, como leitores, que o autor tinha admiração por Raymond Aron, a quem dedica essa obra. Ao completar 30 anos da publicação, é interessante comparar o que Melquior vaticinou para o nosso mundo no último capítulo de sua conclusão: “Como foi observado por alguns distintos sociólogos como Aron ou Dahrendorf, a nossa sociedade permanece caracterizada por uma dialética contínua, embora cambiante, entre o crescimento da liberdade e o ímpeto em direção a uma maior igualdade — e disso a liberdade parece emergir mais forte do que enfraquecida”.

Ah, em tempo, o prefácio é de Roberto Campos.

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