Em outubro deste ano, 2020, será comemorado os 90 anos da Revolução de 1930. A revolução que mudou a cara e a forma de fazer política no Brasil, que derrubou o coronelismo e preparou o país para receber o pluripartidarismo, quinze anos mais tarde. Até então, o Brasil era dominado por um partido único: o Partido Republicano. Cujas siglas mudavam pelo gentílico dos estados. PRP era o Partido Republicano Paulista. PRM era o Partido Republicano Mineiro. PRF era o Partido Republicano Fluminense… e assim por diante.

Excetuando os dois primeiros presidentes da República, os marechais Deodoro e Floriano, todos os demais foram eleitos num acordo leniente de alternância entre os candidatos do PRP e do PRM. São Paulo e Minas Gerais dominavam a política chamada “café com leite”. Saia um paulista, entrava um mineiro. Essa política excluía o restante do país, cujos estados e líderes eram apenas coadjuvantes.

O livro “1930 – Os Órfãos da Revolução”, do jornalista Domingos Meirelles, publicado pela Editora Record, com 764 páginas, narra essa história de maneira magistral, permeando os caminhos políticos que levaram à ruptura entre Minas e São Paulo na indicação do candidato a presidente em 1930. Pelo “café com leite”, o candidato seria Antonio Carlos, governador de Minas, para suceder a Washington Luís, que apesar de ter nascido em Macaé, no estado do Rio de Janeiro, era político paulista, radicado em Batatais-SP.

A crise de 1929, provocada pela quebra da Bolsa de New York, prenunciava mudanças com o número enorme de falências, em especial no estado de São Paulo, onde a base da economia era o café, um dos produtos mais atingidos pela bolsa. Em plena crise, os paulistas lançaram Júlio Prestes para presidente. Antonio Carlos, em represália, apoiou a candidatura de Getúlio Vargas, do Rio Grande do Sul. Prestes venceu, mas não levou.

Vargas liderou uma revolta que acabou depondo o presidente Washington Luís. Vargas tomou posse da Presidência da Republica em 3 de novembro de 1930, para o que deveria ser um governo provisório. Com manobras políticas, Vargas e seus seguidores foram levando o governo provisório até 1937, quando aplicou o já esperado “Golpe do Estado Novo” e iniciou uma ditadura que durou até o dia 29 de outubro de 1945. Ou renunciava ou era deposto por uma junta militar.

O livro de Meirelles nos apresenta minúcias dos bastidores, informações que não são retratadas pelos historiadores generalistas. Ele se debruçou sobre documentos e expõe todo o período pré-revolucionário, os movimentos políticos, os encontros, os acordos, as personagens que fizeram parte dos anos, meses e dias que antecederam a revolução.

É um livro que merece uma leitura demorada porque vai levar o leitor aos escaninhos da história. O leitor saberá que o Brasil daqueles dias estava mergulhado nas trevas de uma enorme recessão enquanto o restante do mundo também se abalava em crises, greves e as “eternas ameaças comunistas”, tão presentes no século XX. E por incrível que pareça, os comunistas do Brasil, liderados pela classe trabalhadora, ficaram de fora da revolução porque Vargas e os tenentes (aqueles mesmos tenentes de 1922 e da Revolta de Copacabana) não confiavam no proletariado. O restante é a história vista pelos olhos de um jornalista experiente e de excelente domínio da língua e de texto.

 

FEN

Autor FEN

A Fundação Ecológica Nacional – FEN é uma entidade civil com personalidade jurídica de direito privado, sem fins lucrativos, com autonomia... Saiba Mais

Mais posts de FEN