Livro: Descarbonários
Autor: Alfredo Sirkis
Editora: ubook
Alfredo Sirkis morreu no último 10 de julho. Poucos dias após o lançamento do seu livro Descarbonário. O livro é o resumo do seu legado, uma extensa folha de serviços em favor do planeta Terra e em prol da humanidade. A obra não é, de forma alguma, um contraponto ao seu livro Os Carbonários, que lançou em 1980, há quarenta anos, no qual relata sua passagem pela Vanguarda Popular Revolucionária – VPR, sob a liderança de Carlos Lamarca.
Carbonários é um livro de cabeceira para quem se preocupa com as alterações climáticas que estamos vivendo e que nos assolará nos próximos anos. Com 500 páginas e uma leitura recheada de conhecimento, o livro está repleto de informações sobre o meio ambiente e toda a luta dos ambientalistas, cientistas e políticos que doaram e doam parte de suas vidas para discutir, organizar projetos, propor leis e soluções para salvar o planeta da sanha destrutiva imposta aos povos após a Revolução Industrial. Sirkis era um ambientalista sóbrio que sabia pesar os prós e os contras, com perfeita noção de que o planeta necessita da indústria para gerar riquezas e alimentar os humanos, mas também a indústria e os humanos dependem do planeta para sobreviverem.
No livro, Sirkis discute o aquecimento global, as alterações climáticas, a agricultura e a indústria, os congressos internacionais e sua passagem pela Câmara Municipal do Rio de Janeiro e pelo Congresso Nacional. Faz uma análise sincera e profunda sobre o Partido Verde que ele fundou, ao lado de Fernando Gabeira, e lamenta a melancólica trajetória dos verdes brasileiros até se tornar uma sigla nanica, como a imprensa erroneamente chama os partidos
com poucos deputados federais.
A lucidez com que Sirkis trata os acordos climáticos é o que dá a este livro o merecimento de ser chamado uma obra-prima. Será comparado, no futuro, como Os Sertões do clima e do meio ambiente. É de duvidar que alguém, excetuando, talvez, Al Gore, tenha tanto conhecimento e tanta informações sobre as questões ambientais de abrangência internacional do que Sirkis.
Ao ler Descarbonário, um mundo novo se descortinará ao leitor. O mundo das conferências climáticas e todos os esforços de homens e mulheres de diversas nações para abrir os olhos dos nossos governantes e empresários sobre os desastres e calamidades ambientais. O leitor descobrirá que não existem desastres naturais e que nossa indiferença com o planeta é o nosso verdadeiro passaporte não para a extinção do globo terrestre, mas sim da própria
humanidade.
Estiagens prolongadas (que provocam queimadas como estamos assistindo atualmente), calor insuportável, furacões, maremotos, nevascas fora do tempo e em locais não costumeiros, a elevação do nível do mar e epidemias são algumas das calamidades provocadas pelo efeito estufa e as alterações do clima. Sim, as epidemias. As alterações climáticas fazem com que os vetores tipicamente tropicais se espalhem para regiões temperadas. Nada no planeta acontece por acaso.
“O aquecimento do planeta não provoca apenas mais calor, mas faz com que todo o clima se altere, fique errático, ‘bagunçado’. Fenômenos climáticos antes raros de repente passaram a se repetir com maior frequência e brutalidade”, assevera Sirkis, logo no primeiro capítulo, com o título “Aquela esquimó”.
Nos últimos capítulos, Sirkis enfatiza seu legado, oferecendo alternativas para os governantes. Os capítulos O pulo do gato e A virada da ampulheta são um primor para fechar a sua trajetória. Entretanto, logo em seguida, nos anexos, ele aponta caminhos em Mudanças do clima — Riscos e oportunidades para o Brasil. Trata-se de um documento entregue por ele ao presidente Michel Temer para ser repassado ao seu sucessor, Jair Bolsonaro. É um documento raro e rico que mostra ao Brasil os riscos e as oportunidades econômicas para o país. Ele diz com a clarividência de quem conhece o assunto a fundo: “O país precisa conhece-los (riscos e oportunidades) para tomar as melhores decisões que garantam um futuro de prosperidade e independência”.
