Livro: História e Utopia
Autor: Emil Cioran
Editora: Rocco
O livro História e Utopia, com tradução de José Thomaz Brum, reúne seis primorosos textos do filósofo romeno Emil Cioran, relançado recentemente pela Editora Rocco. É um livro de curta leitura, tem apenas 127 páginas, mas traz um artigo que pode ser considerado uma aula política que transcende o tempo, as fronteiras, os regimes e os sistemas político: Escola dos Tiranos.
O terceiro texto, com o instigante título Escola de Tiranos, Cioran mordazmente provoca o leitor abrindo o ensaio político-filosófico com uma frase lapidar: “Quem não conheceu a tentação de ser o primeiro na cidade não compreenderá nada do jogo político, da vontade de submeter os outros para convertê-los em objetos, nem adivinhará os elementos de que se compõe a arte do desprezo”.
É preciso ressaltar que os textos foram escritos antes de 1960, ou seja, catorze anos após o fim da 2ª Guerra Mundial e que Cioran, nascido em 1911, viveu todas as agruras desse conflito. Na sua experiência estão os desmandos dos maiores tiranos europeus do século XX, de Hitler a Stalin, passando por Mussolini e Franco. Seu conhecimento do mundo político está além da teoria.
Cioran vê o mundo com uma amargura que nos convida a refletir sobre a existência humana e conclui que a maioria dos humanos (leia-se o Povo), como já observava Étienne de la Boitié há 460 anos, é propenso a aceitar a tirania e a escravidão. E os tiranos sabem disso e se apropriam dessa vontade implícita, vívida e plantada no âmago da alma da maioria. Cioran afirma que “o povo carrega os estigmas da escravidão por decreto divino ou diabólico” e finaliza dizendo que “como nenhum regime assegura sua salvação, o povo acomoda-se a todos e a nenhum.”
Todavia, a máxima maior que Cioran nos ensina neste livro é que o tirano se torna refinado e mais forte quando se alia principalmente a uma religião ou a um grupo que defende os mesmos ideais porque, assim, ele terá “neófitos obedientes à tua sorte ou a tuas extravagâncias, fiéis que poderás salvar ou maltratar à vontade”.
Este livro é uma leitura imprescindível para quem quer entender o mundo atual. Qualquer semelhança com a atualidade brasileira não será mera coincidência.
